quarta-feira, 25 de agosto de 2010

ensaio sobre o esboço


Ele já havia desistido de existir faz tempo
o seu ser foi se tornando um sendo
e foi indo, e foi sendo um indo durante um tempo
e todo o tempo então foi sendo
tão real quanto o existir.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Descostura


Parecia mesmo era que a minha cintura iria se desprender, se descosturar todinha de mim e cair no chão que nem um pedaço de pano velho. Eu então seria mais leve, tão mais leve e tão menos mulher.

sábado, 7 de agosto de 2010

Gerúndio finito


Um dia ela me disse que era para deixar as coisas simplesmente acontecerem. Simplesmente, acontecerem. Sensato, não? Uma alternativa poeticamente sensata de cometer uma dúzia de devaneios e culpar o “aconteceu”, “foi sem querer”, “era maior do que eu”, “foi mal, aconteceu”. E eles vão acontecendo, um atrás do outro, e eu, sendo um decente amante da liberdade de sentimentos e relações abstratas, deixo acontecer e penso, poxa, aconteceu.
Então é isso, é só deixar acontecer, certo? É, só isso. Mas me diz, como que posso simplesmente deixar acontecer o que eu venho planejando minuciosa e secretamente, compondo com todos os detalhes e notas dessa espécie de ópera sustentada por tons românticos e melodias humildes; Como que eu posso deixar simplesmente acontecer o que eu venho cogitando com tantos ângulos e alternativas, acontecer assim, e somente deixar acontecer? Acontecer e terminar, e acabar e ir embora e nunca mais ter uma minúscula possibilidade de acontecer do jeito que deveria (ou que poderia, talvez) acontecer.
Então me diz, você realmente acha que eu posso deixar acontecer o que vem acontecendo em mim quase que o tempo todo?