sábado, 7 de agosto de 2010

Gerúndio finito


Um dia ela me disse que era para deixar as coisas simplesmente acontecerem. Simplesmente, acontecerem. Sensato, não? Uma alternativa poeticamente sensata de cometer uma dúzia de devaneios e culpar o “aconteceu”, “foi sem querer”, “era maior do que eu”, “foi mal, aconteceu”. E eles vão acontecendo, um atrás do outro, e eu, sendo um decente amante da liberdade de sentimentos e relações abstratas, deixo acontecer e penso, poxa, aconteceu.
Então é isso, é só deixar acontecer, certo? É, só isso. Mas me diz, como que posso simplesmente deixar acontecer o que eu venho planejando minuciosa e secretamente, compondo com todos os detalhes e notas dessa espécie de ópera sustentada por tons românticos e melodias humildes; Como que eu posso deixar simplesmente acontecer o que eu venho cogitando com tantos ângulos e alternativas, acontecer assim, e somente deixar acontecer? Acontecer e terminar, e acabar e ir embora e nunca mais ter uma minúscula possibilidade de acontecer do jeito que deveria (ou que poderia, talvez) acontecer.
Então me diz, você realmente acha que eu posso deixar acontecer o que vem acontecendo em mim quase que o tempo todo?

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