Um dia ela me disse que era para
deixar as coisas simplesmente acontecerem. Simplesmente, acontecerem. Sensato,
não? Uma alternativa poeticamente sensata de cometer uma dúzia de devaneios e
culpar o “aconteceu”, “foi sem querer”, “era maior do que eu”, “foi mal,
aconteceu”. E eles vão acontecendo, um atrás do outro, e eu, sendo um decente
amante da liberdade de sentimentos e relações abstratas, deixo acontecer e
penso, poxa, aconteceu.
Então é isso, é só deixar acontecer, certo? É, só isso. Mas me diz, como que posso simplesmente deixar acontecer o que eu venho planejando minuciosa e secretamente, compondo com todos os detalhes e notas dessa espécie de ópera sustentada por tons românticos e melodias humildes; Como que eu posso deixar simplesmente acontecer o que eu venho cogitando com tantos ângulos e alternativas, acontecer assim, e somente deixar acontecer? Acontecer e terminar, e acabar e ir embora e nunca mais ter uma minúscula possibilidade de acontecer do jeito que deveria (ou que poderia, talvez) acontecer.
Então me diz, você realmente acha que eu posso deixar acontecer o que vem acontecendo em mim quase que o tempo todo?
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