Gostava de dar a volta ao redor da casa, mesmo que o quintal fosse limitado num corredor minado por merda de cachorro e por gritaria dos vizinhos, sim, gostava de passar as mãos nas esburacadas e ásperas paredes, estas cinzas e vermelhas com pedaços de tijolos batidos expostos, sentir aquele cheiro de década passada, aqueles cacos de vidros enfileirado acima do muro e uniformizados de azul, verde, céu... Lá dentro já lhe chamavam; ela se escondia na aresta da parede, ria sozinha, olhava os arames e as portinhas, os chinelos jogados junto aos cachorros, o cachorro dormindo sob a guarda do chinelo.
Já começavam a vir passos que rastejavam as solas dos pés, chamavam “Menina!” e ela corria pelo outro lado; pelo outro lado quem sabe não seria pega, não seria pega pela merda e gritaria, pelo céu azul batido de nuvens ralas, a cadeira de balanço ninada pelo vento, os jornais rasgados rodopiando no chão e pelo cheiro de bolo que vinha na porta da cozinha, um cheiro que somente em suas narinas era peneirado de vestidos de bonecas e pipas azuis.
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