Bateram na porta. A porta era de vidro, e ela lá fora conseguia me enxergar sentada no outro lado da recepção com o livro aberto, pousado nas coxas cruzadas. Eu ergui meus olhos, olhei para ela. Ela tentava, inutilmente, abrir a porta. E eu olhava: “ta aberta” pensava, e ela continuava empurrando a maçaneta e tocando a campainha. A recepcionista ria ao telefone. Nos outros bancos, somente revistas. E eu ali, bem na frente, observando com precisão a cada pressionada que ela dava com os dedos firmes na maçaneta, claro, tava escrito “pressione” e ela pressionava, ela obedecia e pedia ajuda pela campainha. A recepcionista prendeu o telefone entre o ombro e a orelha, depois começou a lixar as unhas. E eu ali, silenciosamente dizendo “moça, ta aberta”.
Ela então abriu. Entrou, fechou a porta com os olhos cravados no chão. Olhou pra mim, sorriu de lado: “Olha só, tava aberta...”.
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